Thursday, June 28, 2012

Lula e Maluf - Política ou Sociedade?

Lula e Maluf - Política ou Sociedade?

Este post na verdade era pra ser um comentário na Timeline do meu amigo Henry, que compartilhou um post do Rodrigo Constantino sobre a aproximação de Lula e Maluf, mas que começou a gerar tantos insights, que não caberiam num comentário do FB.

Em resumo o post fala dos políticos, de sua "podridão, e da "bovinidade" da sociedade que assiste a tudo isto de uma maneira natural. Claro, o Rodrigo fala ainda um pouco mais do PT, que há alguns anos se dizia o partido mais moral do mundo e hoje se diz "igual aos outros".

Pois eu diria meu amigo Henry, do fundo da minha ignorância, e com base apenas das minhas observações cotidianas da sociedade Iberoamericana (já que os Joãos e Marias não tem o crédito por saber pensar, então isto nem minha opinião pode ser), chego ao "devaneio" psicológico de que o comportamento político que assistimos "bovinamente" é apenas a ponta do Iceberg, ou diria ainda mais, é só o reflexo da sociedade Iberoamericana.

Para não ficar no campo das suposições e do imaginário, vou traduzir o que quero dizer em fatos consumados específicos, e em situações genéricas que acontecem com todo mundo no dia-a-dia.

Genéricas:

  • Quantas vezes você participou de algum evento, onde teve que dar o tapinha nas costas daquele baita FDP, só porque você sabe que se reagir de uma maneira diferente vc será julgado, eventualmente não será bom pros seus negócios, e assim por diante? (Eu tenho uma novidade para vocês, isto se chama "falsidade", "conflito de interesses")
  • Quantas vezes você pensou em ficar em casa com sua família, mas vai ter que ir no evento A ou B, da Confraria A ou B, da Associação A ou B, porque isto vai ser bom pros seus negócios, dar um tapinha nas costas daquele "parceiro", encontrar o fulaninho de tal, mesmo sabendo que o papo é furado?  (isto pode ser chamado de um monte de coisa, depende da situação, mas vai de formação de quadrilha do pior do lado negativo, a networking, no melhor do lado positivo da situação)
  • Quantas vezes você usou o contato aquele da associação A ou da associação B, da Prefeitura... para por exemplo conseguir acelerar a emissão do alvará da sua empresa, ou para conseguir pular a fila de atendimento do hospital... e etc???? (Eu tenho uma novidade para vocês, isto se chama Corrupção - a mesma aquela de Brasília, só que é a corrupção em forma "Bebê")
  • Quantas vezes você concordou com alguém que falou uma verdade para aquele grupo de amigos, aquela associação, aquela confraria, mas não teve coragem de se posicionar porque você seria julgado, ou isto faria mal para sua imagem, sua família? (Isto se chama Bullying e Conivência)
  • Quantas vezes você foi num casamento onde um padre dá conselhos aos noivos, de como se comportar e blablabla... ai eu me pergunto, qual experiência ele tem pra falar do assunto? Se tiver, tá errado, pois não são supostamente nascidos para ter tal experiência, ou eles são desta turma que toda hora sai no jornal e todos fecham os olhos... (Seria isto parte da nossa bovinidade? O quão diferente é do que vemos no cenário político?)

E ai eu pergunto: POR QUÊ? E pergunto mais:
  • Quantas vezes você participou de algum evento, onde NÃO deu o tapinha nas costas daquele baita FDP?
  • Quantas vezes você concordou com uma verdade e se posicionou, mesmo sabendo do impacto negativo para sua imagem e seus negócios?
  • ...
POR QUE NÃO?

Específicas
  • Em Santa Maria - RS, cidade onde moro, tem um senhor que se diz e é visto pela sociedade como um líder, um empreendedor, participa da associação a e b, etc... pois certa vez o indivíduo fala um monte de bobagem a respeito das inundações e deslizamento de terra no Rio, fez afirmações que iam do racismo a ignorância, pois bem, escrevi um email para o cidadão dizendo umas verdades, que serviam para ele, e pra toda alta sociedade da cidade... resultado... 2.... no geral todo mundo me chamou de louco, desequilibrado... outros, que estão no meio da alta sociedade escreveram "Mauricio, concordo plenamente contigo, só que infelizmente não posso me posicionar porque posso ser prejudicado"... 
  • Estes dias eu ligo a TV, e vejo a maioria da classe política, social, empresarial da cidade num evento de lançamento de um novo empreendimento na cidade, ligado a área de saúde. Até ai tudo bem, só que de repente eu vejo todo mundo enaltecendo o empreendedor do negócio... dizendo que este é o tipo de empreendedor que a cidade precisa... até o Prefeito falou isto... dai me caiu todas as fichas do bolso... O empreendimento em si, é de grande valia, mas o empreendedor, não vale a bóia que come... é  público e sabido... o rapaz tem uma lista de processos civis de invejar muita gente, esteve metido em financiamentos políticos de tudo que é ordem, quase um Cachoeira local... moral da história, ou os meios começam a justificar os fins, ou o pessoal é muito burro, ou os princípios da moral e da ética foram esquecidos... 
  • Aproveitando o gancho, e o Cachoeira, precisa dizer alguma coisa???? Será que ele chegou lá só por causa dos políticos? Quantas empresas e empreendedores estão amarradas a ele? Até o judiciário está nesta... E o Cachoeira é a bola da vez, mas na realidade todo dia a gente vê indícios deste modus operandi, o governo não acabou de lançar um pacote economico que só beneficia Bancos e Montadoras???? Por que será, porque o governo é burro??? Ajudar quem não precisa de ajuda, e dizer que isto acelera economia? Sério? Quantos empregos são gerados por estes setores e quantos empregos são gerados pelos pequenos? O governo sabe que se quiser impulsionar economia tem que investir nos pequenos, na educação, no salário dos professores, dos servidores públicos, isto sim vai atingir todas as cidades do Brasil... o governo sabe disto... mas... por que será que não faz? E só benefícia os grandes? E me diz uma coisa, isto é só culpa do Governo, dos políticos? Os empresários que representam estes setores não tem nenhuma culpa no cartório?
Enfim, eu poderia ficar uns dois dias dando exemplos, o que não é o caso.

Para finalizar os meus devaneios psicológicos, eu quero compartilhar mais algumas "obervações" baseado na experência de vida que tive em outros países.

Eu vivi na Holanda e na Índia, e passei alguns dias ou semanas em mais de 50 países diferentes, que vão da Russia, a Inglaterra, Hong Kong, Bangladesh, Egito e por ai vai... O que pude ver está expresso na formula abaixo:

Maior diferença social > Admiração ao poder < Meritocracia < Valores e Moral > Corrupção


Na Holanda por exemplo, onde vivi por quase dois anos, um lixeiro e um médico, são praticamente a mesma coisa, os dois prestam serviços super relevantes para sociedade, recebem praticamente a mesma coisa, assim como um político... ou seja, esta adoração pelo status e pelo poder não afeta as pessoas, pois como as diferenças são muito pequenas, isto não é percebido como uma coisa importante pelas pessoas, e dai isto desce a cadeia, e muitos dos comportamentos vistos na sociedade Iberoamericana não acontecem, como por exemplo você ter que ir no evento social A ou B por interesse, ou ter que dar o tapa nas costas do FDP que você não gosta porque vai ser bom pro seu negócio... as pessoas só fazem o que gostam e só convivem com quem querem... e o mais engraçado, nos olhos dos Iberomaricanos, isto é visto como "frieza"....

Mas as diferenças não param ai, na Holanda, tudo é informatizado, então não tem esta de sou filho do fulano, conheço o ciclano, sou Governador daqui ou dali... o que manda é o sistema, que é bem transparente, tudo tem dia e hora pra acontecer, e não importa quem você é, a regra é igual para todos...

E tem outras grandes diferenças, que demoraria para eu explicar, como pro exemplo o sistema educacional....

O oposto, acontece na Índia, lá a diferença social é muito maior que nos Países Iberoamericanos, e dai a corrupção é maior, os comportamentos sociais, os grupos, os tapas nas costas são muito mais importantes...

Enfim, tem muitas perguntas que não tenho respostas, mas meus devaneios psicológicos me levam a acreditar que o buraco é mais embaixo... a política é a reflexão das nossas práticas sociais!

O que vocês acham?

Grande abraço!

Mauricio


2 comments:

  1. Perfeito!
    O que mais me irrita é isso: falação dos outros e o rabo entre as pernas.
    A velha história do "eles". Não é um caso "deles", mas nosso!
    Fico feliz que esteja nessa absorção,
    Babi

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  2. Oi Maurício,
    Curiosamente estive num evento esta semana e na mesa do almoço começámos a discutir este tópico,e não me souberam responder à seguinte pergunta: por que é que ainda ninguém se lembrou de ir ao mercado, reunir os legumes podres e atirar à cara de quem é explicitamente corrupto em Brasília?? Não me souberam responder, mas concordaram que seria uma excelente ideia, e ainda por cima legumes que seriam jogados fora, teriam um destino inesperadamente útil.

    Agora a sério: sou holandesas e reconheço o sistema transparente do meu país, se bem que às vezes conseguem exagerar (por exemplo no governo não são consideradas as indicações de pessoas se elas, alguém na família ou algum amigo tenha uma ligação com esse posto; e até área, o que torna indicações quase que impossíveis)

    Quem me conhece sabe a minha indignação profunda com a corrupção (considerei uma carreira de jornalismo investigativo até ver os números de esperança média de vida...) mas fico a pensar e talvez essa expressão de não se querer posicionar contra algo que não concorda venha de um aspecto cultural mais profundo, o de evitar o conflito e o confronto.
    Isso pode ser algo bom em determinadas situações (o foco na mediação, diplomacia) mas péssimo se evitado ao extremo.

    Eu evito procurar a origem do problema nos políticos etc, não porque ele não esteja lá, mas por me sentir exasperada de não conseguir mudar isso.
    Saí do meu país com a esperança e boa vontade na bagagem, para um país onde quero fazer uma diferença positiva, então a minha pergunta principal é: como posso ter um papel ativo na sociedade que a transforme em algo melhor?
    E como a Babi disse, "não é um caso "deles" mas nosso!"

    Assim começa a responsabilidade individual, e com isso a avaliação de risco e eficácia das nossas ações.
    Não estamos numa Rússia onde a democracia é um fantoche, então podemos sim ter mais coragem em nos posicionar e resguardar os valores em que acreditamos sem temer prisões indefinidas.

    Deixo aqui um exemplo de coragem e grandeza de espírito deste grande senhor que se chama Stephane Hessel, antigo combatente da Resistência na 2a Guerra Mundial, co-escreveu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele escreveu um pequeno manifesto de 32 páginas aos seus respeitados 92 anos intitulado: "Indignez-vous" - INDIGNAI-VOS. Aqui ele diz que é preciso que digamos um BASTA!CHEGA!NÃO MAIS! e que venhamos com alternativas construtivas. Os exemplos vão desde o conflito Israelo-Palestiniano até questões ambientais, mas que é preciso estar "acordado".
    Porque por este caminho de apatia vemos um filme em câmara lenta desenrolando-se à nossa frente rumo a um buraco negro; e é imperdoável que no fim fiquemos com a questão "E se eu tivesse feito xxx?" Vamos falar dos xxx que podemos fazer agora??

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